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EDSON JOSÉ VALGAS
ESCOLA DA PONTE
PORTUGAL
Vou falar um pouco de um conceito, ou melhor, uma escola nada convencional para os padrões do Brasil; uma escola onde não existem diretores, salas de aulas, divisão por idade ou série e tão pouco um currículo obrigatório. São os próprios alunos que escolhem o tema a ser estudado. A cada 15 dias, com a mediação de um professor, verificam se alcançaram os objetivos, e constatado o aproveitamento, recomeçam novamente. uma escola que alcançou a incrível façanha de se tornar autônoma perante o governo de Portugal; situada em Vila das Aves, cidade de 10 mil habitantes, a alguns quilômetros da cidade do Porto que há mais de trinta anos vem transmitindo conhecimentos à seus alunos de uma maneira mais que original, inovadora: “A Escola da Ponte.”
O idealizador da “Escola da Ponte”, projeto que ignora totalmente o tradicionalismo, foi o anarquista convicto e educador José Pacheco. Vivendo hoje
Com um início que tinha tudo para ter começo e fim, a escola da ponte funcionava em duas escolas, sendo que uma delas era clandestina e Pacheco se revezava com mais dois professores para dar aulas para 120 alunos. Para driblar o Ministério da Educação de Portugal, os alunos e os pais eram instruídos a mentir sobre a série e o que acontecia na escola. Relatórios forjados foram elaborados, pois se o governo soubesse do que realmente acontecia lá, acabariam com tudo. “Por isso digo às pessoas que querem fazer diferente: vão devagar. Grandes metas; pequenos passos. O maior inimigo do professor é o professor.” Ao fim de 10 anos, com o apoio dos pais, a Escola da Ponte tinha suas próprias instalações.
Mais que uma nova pedagogia, a Escola da Ponte era um projeto político, já que Pacheco chegou a ser prefeito de Vila das Aves no período de
Quando questionado sobre a criação ou não de uma teoria na nova escola, Pacheco diz: “Há um antes e um depois da Escola da Ponte na história da educação.” O mentor da Escola comenta também que as escolas que vierem a clonar a Ponte estarão fadadas ao fracasso. “Muitos dizem: faço como a Ponte e nada resulta. Percebe? Quem quiser fazer como a Ponte só pode esperar o insucesso.” Para José Pacheco imitar esse projeto seria inviável, já que, como ele mesmo define, a Escola da Ponte não é um plano completo e precisa se renovar, manter-se sempre atual. Segundo ele: “Na educação está tudo por inventar, estando tudo inventado. Há muita teoria e prática. Ou seja, por mais que façamos de novo, é sempre antigo.”
A editora Lívia Perozim pergunta à Pacheco: “E a Ponte mantém-se fiel ao projeto originário? Com mais de 50 anos de experiência na educação e sempre como um olhar desconfiado, o anarquista responde: “Estamos passando por uma fase crítica. E isso custa muito, não queria dizê-lo, mas é a verdade. Aliás, é por isso que considero que a Ponte terá futuro, porque o coordenador atual, meu ex-aluno e um excelente profissional, passa por um mau bocado. É preciso agora não recuperar o que foi feito, mas retornar o caminho dentro dos princípios do projeto da Ponte.” Ele diz também que é errado ver a Ponte como um mito, pois para ele, a escola é igual as outras e corre o risco de acabar, devido as más administrações de pessoas que tiveram tempo para destruir o que ele ao longo dos anos construiu e fará uma tentativa para ajudá-la, mas... “se ela não tiver a possibilidade de se recuperar, eu escrevo: o projeto da Ponte acabou.”
“Estou sempre a conspirar.” É o lema de Pacheco. E nesta conspiração, ele está preparando um novo projeto, o qual levará aproximadamente quatro anos de dedicação intensa, sendo esse de autoria coletiva. Só podemos esperar para saber se o projeto terá a mesma repercussão da Escola da Ponte.
Sempre em viagens pelo Brasil, o mentor da Ponte fica indignado com algumas situações escolares e com os salários miseráveis que os professores recebem. Comenta que o país não os merece, para ele esses professores são verdadeiros heróis. “É no tradicional que nasce o novo. Eu sou muito criticado por isso, pelos meus amigos anarquistas. Agora até me chamam de neoliberal, porque eu defendo que as escolas contratem pessoas e as despeçam imediatamente se não forem bons profissionais. O pior que pode haver numa escola são prostitutos da educação.”
Lívia questiona: “A Escola da Ponte ganhou popularidade entre os educadores brasileiros através do livro do educador Rubem Alves, A Escola com Que Sempre Sonhei sem Imaginar Que Pudesse Existir. Em sua opinião, a Ponte é aquilo que o autor descreve nessa obra? Pacheco responde: “Sou grato ao Rubem Alves. Não quero ser injusto, até porque lhe devo esta oportunidade de começar a minha vida aqui. Ele é um poeta, um pedagogo nato, intuitivo, e escreveu sua impressão de viagem, de vista. O que vejo naquele livro é um relato maravilhoso, mas que, nas mãos dos incautos, pode transformar a Ponte num mito.”